“Foi lindo! Um momento para ficar na memória e uma prova contundente de que fé e política podem e devem caminhar juntas, impulsionando uma ação transformadora em nossa sociedade. O evento foi marcado por espiritualidade, mística e reflexões profundas, frutos do diálogo construtivo e da participação ativa. Foi, sobretudo, um momento de encontros e trocas entre pessoas que acreditam que é possível construir um mundo mais ético, justo e inclusivo, no qual o cuidado com a Casa Comum seja a grande prioridade.”
Assim o deputado federal Miguel Ângelo definiu o 12º Encontro Nacional de Fé e Política, realizado em Belo Horizonte, de 5 a 7 de abril, e que reuniu, no Center Minas, no bairro União, mais de 1.700 pessoas de todas as regiões do país.
Com o tema “Espiritualidade Libertadora: encantar a política com arte, cultura e democracia”, o encontro teve caráter ecumênico e inter-religioso, com a participação não somente católicos e católicas militantes, mas representantes de igrejas protestantes, de religiões de matriz africanas e de povos originários. A programação contou com momentos de oração e mística, além de conferências temáticas, reflexões em grupos, noite cultural, celebrações inter-religiosas, além de uma feira de artesanato, produtos da cultura popular e livros.
O evento foi marcado pela diversidade e a representatividade. Entre os presentes, pessoas de destaque na militância popular, social, ambiental, cristã e religiosa, como: Leonardo Boff; Frei Betto, Padre Manoel Godoy, Pedro Ribeiro, pastora Lusmarina Campos Garcia; o cacique do povo Xucuru Kariri, Carlos José da Silva; Capitã Pedrina, da Guarda de Moçambique de Nossa Senhora das Mercês de Oliveira; José Carlos, da comunidade quilombola dos Arturos; e Michelle Capuchinho do MST-MG, entre vários outros e outras.
Assim como Miguel Ângelo, vários deputados e deputadas federais e estaduais também estiveram presentes, bem como vereadores e vereadoras, prefeitos e prefeitas e o vice-presidente do Tribunal de Contas de Minas Gerais (TCE-MG), conselheiro Durval Ângelo.
“Coragem da transformação”
O 12º Encontro Nacional de Políticos Cristãos foi, sobretudo, “uma celebração da resistência e da esperança”, como constatou o padre Dário Bossi em artigo publicado na página da CNBB. Durante todo o encontro, uma vela permaneceu acesa em lugar de destaque, em referência ao tempo de Páscoa. Como destacou Bossi, a luz brilhou por todo o tempo, “a nos lembrar a Ressurreição de Cristo, que é de certa forma a insurreição de todas as forças inconformadas que rolam as pedras dos sepulcros, atravessam as portas fechadas, empurram a Igreja para sair de si”.
Já o teólogo e escritor Leonardo Boff ressaltou, em sua participação, a necessidade de que as pessoas não deixem se apagar a chama da indignação; não se deixem resignar pelo torpor da acomodação. Segundo Boff, é urgente assumir “a coragem da transformação”, frente à crise climática, ambiental, social e ética vivenciada pela humanidade no atual momento de “colapso de um sistema capitalista que mata, exclui e discrimina”.
A pastora luterana e teóloga Lusmarina Campos abordou a espiritualidade. De acordo com ela, “A espiritualidade é o jeito de ser de nossos corpos: únicos, coletivos, integrados – porque somos corpos também junto às plantas e aos bichos -, atravessados pelas dores e a abundância da festa. Corpos que não cabem em si, que buscam sempre se superar, em transcendência”. Sobre esses mesmos corpos, expressão da espiritualidade, Frei Betto acrescentou que buscam se relacionar com o “Pai-Nosso”, que é também nossa Mãe, enquanto conseguem repartir o “Pão Nosso”, a cada dia.
A pastora Lusmarina Campos e Frei Betto compuseram conferência “Espiritualidade Libertadora: Política, Democracia, Arte e Cultura”, que teve também a participação de Sônia Gomes, representante do Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), e do poeta, compositor e cantor Zé Vicente.
A arte teve papel preponderante, presente em todos os momentos do encontro, em suas mais variadas formas de expressão: música, dança, arte popular, artes plásticas, audiovisual. O poeta, cantor e compositor, Zé Vicente, ressaltou a importância da arte como instrumento de resistência e libertação: “ela é irreverente, ela põe a alma do povo para dançar”.
Assista ao vídeo:
Merecem destaque as oficinas temáticas, que trataram de temas de grande relevância no cenário atual, a exemplo de: economia solidária; eleições 2024; educação política popular; uso das mídias digitais; “capitalismo de rapina” e emergência climática; fundamentalismos e o clericalismo; construção da paz mundial; luta pela terra – povos originários, MST, quilombolas e outros; arte como canal de transformação; formas religiosas populares (congada, folias, tradições afro, grupos pentecostais).
O 12º Encontro Nacional de Fé e Política resultou em uma “Carta Compromisso”.
Sobre o Encontro Nacional de Fé e Política
O Encontro Nacional de Fé e Política é uma extensão das atividades do Movimento Nacional de Fé e Política e foi realizado pela primeira vez no ano 2000, na cidade de Santo André (SP). O encontro de Belo Horizonte retomou a realização do evento, suspenso desde a edição de 2019, em Natal (RN), devido à pandemia do Covid-19.
O Movimento Nacional Fé e Política foi criado em junho de 1989, no Rio de Janeiro, durante um encontro de um grupo de pessoas unidas pela fé cristã e engajadas em movimentos sociais, partidos políticos e mandatos populares, com o objetivo de alimentar a dimensão ética e espiritual que deve animar a atividade política.
Ao longo dos anos, naturalmente, o movimento trouxe para as reflexões o ecumenismo, ampliando o diálogo inter-religioso. O intuito é propiciar às pessoas que professam diferentes religiões e são engajadas na política um espaço de reflexão, à luz da fé, dos valores do bem viver e dos desafios de uma realidade marcada ainda pela pobreza e exclusão.
Revista Casa Comum
O 12º Encontro Nacional de Fé e Política foi palco também do lançamento da 8ª edição da Revista Casa Comum. Publicada em parceria com o Encantar a Política e com a Paulus Social, a edição tem como tema geral “Reencantar a política: pela mobilização das urnas e das ruas”. Entre outras abordagens, ela traz contribuições para a “compreensão da democracia como um processo a ser construído de modo permanente, sob a ótica da justiça, igualdade e equidade”.
Mutirão pela Democracia
Ainda durante o 12º Encontro Nacional de Fé e Política, foi lançado o curso Mutirão pela Democracia – Eleições 2024, promovido pelo Encantar a Política e a Revista Casa Comum. Trata-se de uma formação à distância para pessoas interessadas em ser multiplicadoras do conteúdo da revista em seus territórios, com foco especial nas eleições municipais de 2024.
O curso terá 10 turmas com sete módulos temáticos. Ao todo, serão disponibilizadas 1.000 vagas, especialmente para lideranças de pastorais, organizações, movimentos, escolas e outros.
O prazo para se inscrever nas primeiras turmas é até 15 de abril. O link de inscrição para o curso é https://forms.gle/nMnYBHQkf4YoVjuHA.
Com informações de Padre Dário Bossi, no site da CNBB, e do site do 12º Encontro Nacional de Fé e Política.