“Sejamos sementes de transformação”: essa foi a tônica do 26º Encontro de Políticos Cristãos, que aconteceu de 1º a 3 de dezembro, na Casa do Movimento da Boa Nova (Mobon), na cidade de Dom Cavati, no Vale do Aço. Realizado pelos mandatos do deputado federal Miguel Ângelo (PT) e do deputado estadual Marquinho Lemos (PT) e pelo Mobon, o Encontro de Políticos Cristãos teve a participação de mais de 300 pessoas, vindas de 93 municípios de várias regiões de Minas Gerais.
Realizado anualmente, este ano, o Encontro de Políticos Cristãos também foi uma das atividades preparatórias para o 12º Encontro Nacional de Fé e Política, que será realizado em Belo Horizonte, nos dias 5, 6 e 7 de abril de 2024. Tratou-se, sobretudo, de um momento que reafirmou e fortaleceu o mandato enquanto construção coletiva, com raízes na luta do povo e o propósito de ser “semente” de transformação social, como bem destacou o deputado Miguel Ângelo.
“A gente tem raízes; sabe de onde veio. E hoje, mais do que nunca, precisamos de raízes bem fincadas no fundo da terra. Temos uma democracia fragilizada. Derrotamos a extrema direita, mas ela não acabou. Ainda há uma ameaça concreta à democracia. Com Lula, estamos vivenciando um tempo novo, que fecundou novamente sementes da democracia. Mas não é um tempo fácil. Por isso, nossa caminhada é solidária e nunca pode ser solitária.” – Miguel Ângelo
Renovação
“Que semente estamos sendo e que bons frutos estamos colhendo em nossas cidades?” A pergunta foi apresentada como motivação inicial para a reflexão e as discussões que se desenvolveram durante os três dias de encontro. O irmão sacramentino Denilson Mariano ressaltou que “Jesus nos desafia à renovação”.
Segundo Mariano, “precisamos nos revestir de uma nova humanidade, que germine de dentro para fora”, assim como a semente. Nesse sentido, “é necessário alimentar o que nos faz crescer e evitar o que nos prejudica”, observou ele, alertando que muitas coisas ruins, como o ódio, o racismo, o preconceito e a injustiça, estão “esparramadas” na sociedade.
Há que se encantar a política
O conselheiro do TCE-MG Durval Ângelo — do Movimento Nacional de Fé e Política — destacou a importância do coletivo reunido no encontro, citando a frase do pensador grego Arquimedes: “Dê-me um ponto de apoio e uma alavanca e eu moverei o mundo”. Segundo Durval, em 30 anos de caminhada política, sendo seis como vereador e 24 como deputado estadual, e em cinco anos como conselheiro, aquele grupo foi seu ponto de apoio e alavanca.
“Foi essa mesma alavanca, o povo, que garantiu a continuidade do sonho e da democracia”, afirmou, complementando que “os direitos humanos são o novo nome da democracia”. Ele instou os deputados Marquinho Lemos e Miguel Ângelo a se manterem nesse mesmo caminho: “cachorro bom não pode perder o faro”, lembrou.
Em outra abordagem, Durval Ângelo tratou do tema “Caminhos para encantar a política com paz e fé libertadora”. Ele discutiu a “dinâmica perversa das batalhas espirituais” e ressaltou que não se pode permitir retrocessos e recuos, nem na política, nem na fé.
“Como na ‘profecia’ dos Titãs, bichos escrotos saíram dos esgotos, na política e na religião. A extrema direita surgiu nas igrejas neopentecostais e também na Igreja Católica”, considerou ele, destacando a importância de que as pessoas não percam a dimensão do encantamento no mundo da fé e da política.
Por sua vez, o deputado estadual Marquinho Lemos alertou para uma certa estagnação da esquerda no campo político-eleitoral. “A maioria de nós somos frutos das sementes plantadas há muitos anos. O problema é que nós paramos de plantar e estamos vivendo só das colheitas. Já tivemos nove vereadores em Belo Horizonte e agora temos somente dois. Precisamos buscar a participação da juventude e a renovação;”
Espiritualidade política deu o tom do Encontro de Políticos Cristãos
O sociólogo Pedro Ribeiro e Tereza Sartório, ambos do Movimento Nacional de Fé e Política, abordaram o tema “Espiritualidade, cidadania e engajamento religioso: o caminho para ganhar as eleições e transformar a realidade”. Pedro Ribeiro iniciou a exposição, fazendo uma distinção entre espírito e alma.
Em sua definição, a alma se refere à dimensão imaterial da pessoa, que é individualizada e se expressa pela mente, pela razão, pelos sentimentos e pelos desejos. Já o espírito relaciona-se a energia, sendo externo à pessoa, como uma força que a penetra e move; um “entusiasmo”, em que a pessoa se sente tomada, conduzida.
De acordo com o sociólogo, a religião é a linguagem mais comum no cultivo da espiritualidade, mas cada vez menos, existindo outras linguagens importantes para manifestar a experiência do espírito, a exemplo das artes. Para ele, a espiritualidade é o “cultivo do espírito” e,“não significa ruptura com o mundo real e seus males, mas o cultivo da energia que ajuda a viver, a dar sentido à realidade vivida.”
Ribeiro destacou a importância de se falar da Terra: “O importante não é falar de Deus, mas de como Ele enxerga a Terra”. Nessa perspectiva, ele define a espiritualidade política como uma “espiritualidade terrenal”, voltada às questões da vida, a exemplo das lutas política, sindical e social. “É a espiritualidade política que renova a face da terra”, considerou.
O sociólogo define a política como a “difícil arte” de possibilitar o que é necessário à sociedade, sendo missão de toda a Igreja animar e desenvolver a espiritualidade política. “Até recentemente, essa missão era mal vista pelas autoridades eclesiásticas, mas o papa Francisco, ao falar Igreja em saída, trouxe novo alento para a questão espiritual na militância política”, explicou.
Um encontro plural
Durante três dias, o 26º Encontro de Políticos Cristãos contou com atividades de aprendizado, debate, reflexão, oração, celebração, descontração e confraternização. Foram momentos em que os mais de 300 participantes puderam alimentar a espiritualidade, compartilhar experiências e se fortalecer para a caminhada.
Também durante o Encontro foi realizado o ato simbólico de filiação ao Partido dos Trabalhadores de Adriano Ventura, pré-candidato a vereador em Belo Horizonte, e de Robinson dos Santos Martins, o Rubinho, vice-prefeito de Acaiaca.
No sábado, a mesa “Nossas Lutas” discutiu o engajamento dos jovens e das mulheres na política e a visibilidade negra. No Evento, foram lançadas, ainda, duas publicações: a cartilha “Federação Partidária: o que muda nas Eleições Municipais 2024”, produzida pelo Mandato do deputado federal Miguel Ângelo, e o livro “Aristides Cadedo: uma vida de pelejas para a construção da felicidade”.